sábado, 12 de julho de 2008

João o filho de Zebedeu -

João o filho de Zebedeu
Dos vários nomes de Jesus
Observastes que alguns de nós chamamos Jesus o Cristo e alguns, a Palavra; e outros o chamam o Nazareno, e ainda outros, o Filho do Homem.
Tentarei esclarecer esses nomes à luz do que me é dado.
O Cristo, Aquele que era no antigo dos dias, é a chama de Deus que mora no espírito do homem. É o hálito da vida que nos visita e adquire para Si Mesmo um corpo igual ao nosso.
É a vontade do Senhor.
É a primeira Palavra, que fala com nossa voz e vive em nosso ouvido para que prestemos atenção e compreendamos.
E a Palavra do Senhor nosso Deus construiu uma morada de carne e ossos, e foí homem como vós e eu.
Pois não poderíamos ouvir a canção do vento, incorpóreo, nem ver nosso Eu maior caminhando no nevoeiro.
O Cristo tem vindo ao mundo muitas vezes, e tem percorrido muitas terras. E sempre foi considerado um estranho e um louco.
Contudo; o som de Sua voz nunca desceu ao vácuo, pois a memória do homem guarda aquilo que sua mente não cuida de guardar.
Esse é o Cristo, o recôndito e a altitude, que marcha com o homem para a eternidade.
Não ouvistes falar dele nas encruzilhadas da Índia, e na terra dos Magos, e sobre as areias do Egito?
E aqui em vosso País do Norte, vossos bardos de antanho cultuaram Prometeu, o trazedor do fogo, o desejo realizado do homem, a enjaulada esperança posta em liberdade; e Orfeu, que veio com uma voz e uma lira vivificar o espírito nos animais e nos homens.
E não ouvistes falar de Mitra, o rei, e de Zoroastro, o profeta dos persas, que despertaram do antigo sono do homem e se puseram ao pé do leito de nossos sonhos?
Nós mesmos nos tornamos homem ungido quando nos encontramos no Templo Invisível, uma vez em cada mil anos. Então, surge um Encarnado, e à Sua chegada nosso silêncio se transforma em canções.
Contudo, nossos ouvidos não se voltam sempre para escutar nem nossos olhos para ver.
Jesus, o Nazareno, nasceu e criou-se como nós próprios; Sua mãe e Seu pai eram quais os nossos pais, e Ele era um homem.
Mas o Cristo, a Palavra que era no princípio, o Espírito que nos levaria a viver uma vida mais completa, juntou-se a Jesus e permaneceu com Ele.
E o espírito era a mão poética do Senhor, e Jesus era a harpa.
O Espírito era o Salmo, e Jesus era a melodia do salmo.
E Jesus, o Homem de Nazaré, era o hospedeiro e o porta-voz do Cristo, que caminhava conosco ao sol e nos chamava Seus amigos.
Naqueles dias, as colinas da Galiléia e seus vales não ouviam outra coisa senão a Sua voz. E eu era então um jovem, e trilhava o Seu caminho e seguia Suas pegadas.
E segui Suas pegadas e trilhei Seu caminho para ouvir as palavras do Cristo, dos lábios de Jesus da Galiléia.
Agora sabereis porque alguns de nós O chamávamos O Filho do Homem.
Ele próprio desejava ser chamado assim, pois conhecia a fome e a sede do homem, e contemplava o homem em procura do seu Eu maior.
O Filho do Homem era Cristo o Benevolente, que queria estar com todos nós.
Ele era Jesus o Nazareno, que queria levar todos os Seus Irmãos ao Ser Ungido, ou mesmo à Palavra que estava, desde o princípio, com Deus.
Em meu coração mora Jesus da Galiléia, o Homem acima de todos os homens, o Poeta que faz poetas de todos nós, o Espírito que bate a nossa porta para que despertemos e nos levantemos e saíamos ao encontro da verdade nua e liberta
.
Do livro Jesus, o Filho do Homem De Gibran Khalil Gibran

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