quinta-feira, 10 de julho de 2008

Fechar os olhos para enxergar ...

A religião trabalha com a confiança: quanto mais você confia, mais religioso se torna. A ciência operou milagres e esses milagres são bem visíveis. A religião operou milagres maiores, mas esses milagres não são visíveis. Porque mesmo que Buda esteja aqui, o que você pode sentir? o que pode ver? Ele não é visível - apenas seu corpo é visível. Visivelmente é tão mortal quanta você; aparentemente ficará velho e morrerá um dia - e, no entanto, ele é a própria negação da morte. Mas você não tem olhos para ver o invisível, não tem capacidade para sentir o mais profundo, o desconhecido.
Por isso é que, pouco a pouco, apenas os olhos confiantes começam a sentir e tornam-se sensitivos. Confiar significa fechar esses dois olhos. Eis porque a confiança é cega, tão cega quanto o amor - ou melhor, mais cega que o amor.
Quando você fecha esses olhos, o que acontece? Uma transformação interna! Ao fechar esses olhos, que olham para fora, o que acontece com a energia que estava saindo por eles? Começa a mover-se para dentro. Ela não pode fluir dos olhos para os objetos; então começa a voltar, torna-se um retorno. A energia não pode ficar estática, tem de mover-se; se você fecha uma válvula, esta começa a procurar outra. Quando os dois olhos estão fechados, a energia que estava se movendo para eles começa a retornar - há uma reversão.
E essa energia aquece o terceiro olho. O terceiro olho não é algo físico. É justamente essa energia que estava se movendo para os objetos exteriores e que agora retorna a fonte - esse retorno transforma-se no terceiro olho, na terceira forma de ver o mundo.
Apenas por esse terceiro olho é que Jesus poderá ser compreendido. Se você não tiver o terceiro olho, Jesus poderá estar aqui, mas você não verá - muitos não o viram. Em sua cidade natal, as pessoas pensavam que ele fosse apenas o filho do carpinteiro José. Ninguém, ninguém pode reconhecer o que estava acontecendo a esse homem: que ele não era mais o filho do carpinteiro, que ele havia se transformado no filho de Deus - mas esse é um fenômeno interno. Quando Jesus declarou: "Eu sou o filho do Divino, do Pai que está no Céu", as pessoas riram e disseram:
"Ou você ficou louco, ou é um tolo, ou então é um homem muito astuto. Como o filho de um carpinteiro o pode, de repente, transformar-se no filho de Deus?". Entretanto, isso é possível...
Apenas o corpo nasce do corpo. A alma não nasce do corpo; nasce do Espírito Santo, nasce do Divino. Mas primeiro, é preciso ter olhos para ver e ouvidos para ouvir.
Entender Jesus é algo muito sutil. Para isso, a pessoa precisa passar por um grande treinamento. E justamente como entender música clássica. Se você começar, de repente, a ouvir música clássica, pensará: "Que coisa mais absurda!". A música clássica é tão delicada que um longo treino é necessário. A pessoa precisa passar par um aprendizado de muitos e muitos anos. Só então seus ouvidos estarão treinados para captar o sutil - a partir daí, não existirá nada como a música clássica. A música popular, do dia a dia, como a música dos filmes, não representará absolutamente nada, apenas ruídos desconexos.
Por seus ouvidos não estarem treinados, você vive com esses ruídos e pensa que isso é música. Para ouvir música é preciso ter um ouvido muito sensível. Um treino é necessário e quanto maior o treinamento, mais o sutil tornar-se-á visível. Contudo, a música clássica não é nada diante de Jesus, porque Jesus é a música cósmica.
Somente quando você estiver silencioso, sem qualquer vacilação no pensamento, sem um só movimento no seu ser é que poderá ouvir Jesus, entender Jesus e conhecê-lo.
Jesus costumava repetir isto muitas e muitas vezes: "Quem tiver ouvidos, que ouça! Quem tiver olhos, que veja!" Por que?
Ela estava falando em outra dimensão de entendimento, que apenas um discípulo pode compreender. Muito poucos entenderam Jesus, mas isso está na própria natureza das coisas, isso tem de ser assim.

Do livro “A semente de mostarda” Osho

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