domingo, 28 de fevereiro de 2010

A TESJ festeja seu 75º aniversário de fundação

A Tenda Espirita São Jorge no dia 15 de fevereiro de 2010 completou seus 75 anos de fundação.
São 75 anos a serviço da prática da caridade espiritual
e do engrandecimento da Umbanda.
Foi a sexta tenda fundada sob a orientação do
Caboclo das Sete Encruzilhadas.
João Severino Ramos, seu fundador, foi médium de Ogum Timbiri,
Caboclo Teimoso de Aruanda, Seu Baiano, Pai Felipe e Seu Tiriri.
Tiriri firmou a porteira da Tenda numa mata num formigueiro.
Funcionou durante muito tempo na Rua Dom Gerardo 45 sobrado,
na Praça Mauá.
Hoje tem sua sede própria na Rua Senador Nabuco nº 122, em Vila Isabel,
realizando as sessões às segundas feiras, às 19:30 horas.
João Severino Ramos trabalhava na Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia, na Rua Camerino, quando recebeu a orientação espiritual para fundar a
Tenda de Ogum.
Acompanharam Severino os irmãos Bastos, Albina, Diniz,
Antonio Pedro Barbosa.
Durante um certo período, João Severino Ramos esteve afastado, pois fora para a Itália, como enfermeiro na Segunda Guerra Mundial. A Tenda foi dirigida, então, por Henrique Pinto, Feliciano Lopes da Silva e Tia Albina.
Vários irmãos no exercício da mediunidade ajudaram a formação da cúpula espiritual da Tenda Espírita São Jorge.
Lembramo-nos de José Cândido, Jovelina, Almerinda, Doguiar, Tota, Léa, Ivone, Lúcia, Adolfo, Nadir, Nélson e tantos outros irmãos que nos legaram o ensinamento da lealdade à Umbanda, sinceridade, desprendimento.
No campo administrativo, lembramos os nomes de Antônio Pedro Barbosa, Silvério, Maria José Padrão, Olivério Bittencort, nosso irmão Batista e o nosso irmão Mário que exerceu a Presidência
por longo tempo.
A Tenda Espírita São Jorge segue a sua trajetória no exercicio para a prática da caridade.

Pedro Miranda

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O Encanto dos Orixás

Quando atinge grau elevado de complexidade, toda cultura encontra sua expressão artística, literária e espiritual. Mas ao criar uma religião a partir de uma experiência profunda do Mistério do mundo, ela alcança sua maturidade e aponta para valores universais. É o que representa a Umbanda, religião, nascida em Niterói, no Rio de Janeiro, em 1908, bebendo das matrizes da mais genuina brasilidade, feita de europeus, de africanos e de indígenas. Num contexto de desamparo social, com milhares de pessoas desenraizadas, vindas da selva e dos grotões do Brasil profundo, desempregadas, doentes pela insalubridade notória do Rio nos inícios do século XX, irrompeu uma fortíssima experiência espiritual.

O interiorano Zélio Moraes atesta a comunicação da Divindade sob a figura do Caboclo das Sete Encruzilhadas da tradição indígena e do Preto Velho da dos escravos. Essa revelação tem como destinatários primordiais os humildes e destituídos de todo apoio material e espiritual. Ela quer reforçar neles a percepção da profunda igualdade entre todos, homens e mulheres, se propõe potenciar a caridade e o amor fraterno, mitigar as injustiças, consolar os aflitos e reintegrar o ser humano na natureza sob a égide do Evangelho e da figura sagrada do Divino Mestre Jesus.

O nome Umbanda é carregado de significação. É composto de OM (o som originário do universo nas tradições orientais) e de BANDHA (movimento inecessante da força divina). Sincretiza de forma criativa elementos das várias tradições religiosas de nosso pais criando um sistema coerente. Privilegia as tradições do Candomblé da Bahia por serem as mais populares e próximas aos seres humanos em suas necessidades. Mas não as considera como entidades, apenas como forças ou espíritos puros que através dos Guias espirituais se acercam das pessoas para ajudá-las. Os Orixás, a Mata Virgem, o Rompe Mato, o Sete Flechas, a Cachoeira, a Jurema e os Caboclos representam facetas arquetípicas da Divindade. Elas não multiplicam Deus num falso panteismo mas concretizam, sob os mais diversos nomes, o único e mesmo Deus. Este se sacramentaliza nos elementos da natureza como nas montanhas, nas cachoeiras, nas matas, no mar, no fogo e nas tempestades. Ao confrontar-se com estas realidades, o fiel entra em comunhão com Deus.

A Umbanda é uma religião profundamente ecológica. Devolve ao ser humano o sentido da reverência face às energias cósmicas. Renuncia aos sacrifícios de animais para restringir-se somente às flores e à luz, realidades sutis e espirituais.

Há um diplomata brasileiro, Flávio Perri, que serviu em embaixadas importantes como Paris, Roma, Genebra e Nova York que se deixou encantar pela religião da Umbanda. Com recursos das ciências comparadas das religiões e dos vários métodos hermenêuticos elaborou perspicazes reflexões que levam exatamente este título O Encanto dos Orixás, desvendando- nos a riqueza espiritual da Umbanda. Permeia seu trabalho com poemas próprios de fina percepção espiritual. Ele se inscreve no gênero dos poetas-pensadores e místicos como Alvaro Campos (Fernando Pessoa), Murilo Mendes, T. S. Elliot e o sufi Rumi. Mesmo sob o encanto, seu estilo é contido, sem qualquer exaltação, pois é esse rigor que a natureza do espiritual exige.

Além disso, ajuda a desmontar preconceitos que cercam a Umbanda, por causa de suas origens nos pobres da cultura popular, espontaneamente sincréticos. Que eles tenham produzido significativa espiritualidade e criado uma religião cujos meios de expressão são puros e singelos revela quão profunda e rica é a cultura desses humilhados e ofendidos, nossos irmãos e irmãs. Como se dizia nos primórdios do Cristianismo que, em sua origem também era uma religião de escravos e de marginalizados, "os pobres são nossos mestres, os humildes, nossos doutores".

Talvez algum leitor/a estranhe que um teólogo como eu diga tudo isso que escrevi. Apenas respondo: um teólogo que não consegue ver Deus para além dos limites de sua religião ou igreja não é um bom teólogo. É antes um erudito de doutrinas. Perde a ocasião de se encontrar com Deus que se comunica por outros caminhos e que fala por diferentes mensageiros, seus verdadeiros anjos. Deus desborda de nossas cabeças e dogmas.

Leonardo Boff
Publicado no Diário de Belo Horizonte e no jornal A Notícia, de Joinvile - SC - Em 05/12/2009.